“Sentimos a partida dos que nos morrem na medida em que os amámos. Dir-se-ia que precisamos deles para respirar, porque não se trata de um eu que chora e de um tu que morreu, mas de um nós, e por isso os sentimos mais próximos do que um abraço. Mas é diferente. Perdemos a possibilidade de os ouvir, de lhes dizer o tanto que devia ainda ser dito. E as lágrimas são-nos necessárias para que a dor nos não sufoque. (…)
Os que nos morrem ensinam-nos a segurar as rédeas da vida, mas ensinam-nos também a abrir as mãos. Para acolher e deixar partir o que nunca foi propriedade nossa, mas tão-só empréstimo do singular milagre que vivemos junto. (…)
A dor pela perda dos que nos morrem inaugura às vezes estranhos caminhos dentro de nós. Feliz de quem neles serenamente se descobre como o ramo que os continua. É sempre do amor e da vida que falamos quando tratamos com a morte.